É assim a treva que me ronda
Arrasta-se feito lama
Uma negra palidez, uma
Criatura escura pálida
Com pseudópodes aponta
Mais um passo, e outra pessoa
Mais uma vítima na ponta
Da presa, seu rugido soa
Cá estou, refugiado, aqui
Sobre uma lâmpada em que
A brancura por mim criada
Não passa de mais uma cela
Cujos vãos lembram janelas
Através das quais se observa a destruição da raça privilegiada.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
ESCASSEZ
Atravessando o árido deserto da escassez
Escrevi meu nome na terra rachada pela seca
Com um pedaço de pau retorcido, outra vez
Com um garrancho nas mãos desenho as cercas
Onde já encarcerei meu próprio espírito
Para que não vague nestas terras castigadas
As únicas e mais improdutivas que, atônito
Recebi, molhando-as, xiringando da face chagada
As impudicas lágrimas, menos salinas que a rocha
Sobre a qual edifico minha casa, digo, pelo menos
Fica o desenho da obra, numa terra que já foi roxa
Agora causticadas, sem lembranças do vento terno
Imploro as migalhas dos abraços, já fui na vida acossado
Por dono de empresa, pelos escritores da imprensa
Já fui em vida imprensado por seis paredes
Na insônia, na doença, tão cansado, assim na rede
Sem parar de pensar na imensidão do sertão
E o quanto ele todo vale nada frente à minha miséria
Aspereza, faz mais de dois mil anos que o ouro virou pó
Nessas noites, sabe, o pó do ouro salgando a terra
A rima não se acerta, o urubu me sonda
Cheirando o suor da minha roupa pelo canto
Da vista, esperando que minha alma se esconda
E ele terá a recompensa pela qual esperou tanto
No cochilo do morto, ele bica meu olho
Escrevi meu nome na terra rachada pela seca
Com um pedaço de pau retorcido, outra vez
Com um garrancho nas mãos desenho as cercas
Onde já encarcerei meu próprio espírito
Para que não vague nestas terras castigadas
As únicas e mais improdutivas que, atônito
Recebi, molhando-as, xiringando da face chagada
As impudicas lágrimas, menos salinas que a rocha
Sobre a qual edifico minha casa, digo, pelo menos
Fica o desenho da obra, numa terra que já foi roxa
Agora causticadas, sem lembranças do vento terno
Imploro as migalhas dos abraços, já fui na vida acossado
Por dono de empresa, pelos escritores da imprensa
Já fui em vida imprensado por seis paredes
Na insônia, na doença, tão cansado, assim na rede
Sem parar de pensar na imensidão do sertão
E o quanto ele todo vale nada frente à minha miséria
Aspereza, faz mais de dois mil anos que o ouro virou pó
Nessas noites, sabe, o pó do ouro salgando a terra
A rima não se acerta, o urubu me sonda
Cheirando o suor da minha roupa pelo canto
Da vista, esperando que minha alma se esconda
E ele terá a recompensa pela qual esperou tanto
No cochilo do morto, ele bica meu olho
ESTRANHO
O ouro decai, e os raios de sol vem
É estranho, é esquisito, tô dizendo
É como se o eco da radiação
Imprimisse bem, bem, bem sutilmente
O calor na paisagem. E, a vendo,
Sinto-me numa área da mente
Cujas memórias são gravadas em
Fotos antigas, sem datação-
Amareladas, amareladas!
É estranho, é esquisito, meesmo!
Tô respirando o pó do tempo
Presente, pó de madeira, de ouro,
Mas pra raspar o ouro não tivemos
Tempo, salpicar o solo mouro
E ver as estrelas oxidadas
Pelo laranja sendo ofuscadas
Laranja do céu no horizonte
Porque estou aqui olhando já faz duas horas
É estranho, é esquisito, tô dizendo
É como se o eco da radiação
Imprimisse bem, bem, bem sutilmente
O calor na paisagem. E, a vendo,
Sinto-me numa área da mente
Cujas memórias são gravadas em
Fotos antigas, sem datação-
Amareladas, amareladas!
É estranho, é esquisito, meesmo!
Tô respirando o pó do tempo
Presente, pó de madeira, de ouro,
Mas pra raspar o ouro não tivemos
Tempo, salpicar o solo mouro
E ver as estrelas oxidadas
Pelo laranja sendo ofuscadas
Laranja do céu no horizonte
Porque estou aqui olhando já faz duas horas
domingo, 28 de setembro de 2008
REGRESSO
E aí, relógio, muito bom te ver de novo
O seu ponteiro parece andar muito bem,
de nada.
Nem sei mais por que o tempo anda tão curvo
E também porque os sulcos não deixam ninguém
por nada.
É só que os crivos da realidade, os túbulos,
Túneis, buracos de minhoca ou mesmo túmulos,
Se preferir, esses ocos da existência,
Que ao morrer por esses vácuos todos passarão,
Preservam sem pensar em qualquer desistência
Nossos corpos, féretros espetados na geleira,
Feito água, feito água congelada com areia.
A Antártida se encontra permeada por cada caixão
Volto aqui a observar a vida pela janela dos meus olhos, esta casa de inverno estava fechada, mas voltei, acendei o fogo do fluxo de consciência!
O seu ponteiro parece andar muito bem,
de nada.
Nem sei mais por que o tempo anda tão curvo
E também porque os sulcos não deixam ninguém
por nada.
É só que os crivos da realidade, os túbulos,
Túneis, buracos de minhoca ou mesmo túmulos,
Se preferir, esses ocos da existência,
Que ao morrer por esses vácuos todos passarão,
Preservam sem pensar em qualquer desistência
Nossos corpos, féretros espetados na geleira,
Feito água, feito água congelada com areia.
A Antártida se encontra permeada por cada caixão
Volto aqui a observar a vida pela janela dos meus olhos, esta casa de inverno estava fechada, mas voltei, acendei o fogo do fluxo de consciência!
terça-feira, 26 de agosto de 2008
SIMULTANEIDADE
Uma borboleta bate as asas em Pequim;
No Central Park faz sol;
No sertão uma rajada de radiação à pino;
A Sibéria sofre com o aquecimento;
Há alguém comprando tinta nanquim, pintando sinos
Que viu numa catedral
Em viagem ao Nordeste. Quanto conhecimento
Foi levado ao outro lado do mundo...
Ontem, estava sob o efeito do pôr do sol, mas
Isso foi há um ano,
E ontem acabou de passar, pois acordei
Faz pouco tempo, pelo que lembro talvez
Do céu vermelho, estava no carro, olhando as
Nuvens no seu afano -
Um ano atrás, dois meses, ontem, eu nem sei
Em que época estamos! -... Que pequenez...
Arrastando-me pelo azul, floco de neve
A enrubescer tanto...
Dias atrás, em uns acasos simultâneos
O mundo se desfez, e agora isso!
Contando os dias para que as horas passem...
Estão demorando, o manto branco,
O crânio, polido, me mantém preso
Aqui dentro, nisso, frio, mas leve
4 janelas, barras de dentes... Tudo se mistura;
No Central Park faz sol;
No sertão uma rajada de radiação à pino;
A Sibéria sofre com o aquecimento;
Há alguém comprando tinta nanquim, pintando sinos
Que viu numa catedral
Em viagem ao Nordeste. Quanto conhecimento
Foi levado ao outro lado do mundo...
Ontem, estava sob o efeito do pôr do sol, mas
Isso foi há um ano,
E ontem acabou de passar, pois acordei
Faz pouco tempo, pelo que lembro talvez
Do céu vermelho, estava no carro, olhando as
Nuvens no seu afano -
Um ano atrás, dois meses, ontem, eu nem sei
Em que época estamos! -... Que pequenez...
Arrastando-me pelo azul, floco de neve
A enrubescer tanto...
Dias atrás, em uns acasos simultâneos
O mundo se desfez, e agora isso!
Contando os dias para que as horas passem...
Estão demorando, o manto branco,
O crânio, polido, me mantém preso
Aqui dentro, nisso, frio, mas leve
4 janelas, barras de dentes... Tudo se mistura;
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
ELEGIA
Ó, fruto sagrado!
Ó, atrocidades mil!
Ó, eleição divina!
Ó, velhos discos de vinil!
Vão deixar meu samba
Apodrecer na rua
Feito cachorro velho
Ignorado aos assobios
Assim na corda bamba
Nessa verdade nua
Num turbilhão estéreo
A me assoprar dos lados
Brincando comigo assim como alguém chuta
Uma lata amassada, uma carcaça na calçada
O cão sem dono, mas amigo de todos, na justa
Hora em que morre, arrebatado numa tragada
Só
Só
Eu me encontro, depredado
E por mim mesmo, confinado
No consultório psiquiátrico
Da epifania e auto-análise
Irônico e sarcástico
Publicamente gentil
Internamente sagaz
Altamente febril
A anedonia e também a autólise
Gravam em mim as tatuagens
Das intempéries e estiagens
30ml é uma baixa dose
Para acelerar o passar do tempo, e
Me levar logo à ti, me desculpar
Ao saber do que fiz, o que ouvis
É minha apologia, uma elegia que
Muito em breve terminará
Ó, atrocidades mil!
Ó, eleição divina!
Ó, velhos discos de vinil!
Vão deixar meu samba
Apodrecer na rua
Feito cachorro velho
Ignorado aos assobios
Assim na corda bamba
Nessa verdade nua
Num turbilhão estéreo
A me assoprar dos lados
Brincando comigo assim como alguém chuta
Uma lata amassada, uma carcaça na calçada
O cão sem dono, mas amigo de todos, na justa
Hora em que morre, arrebatado numa tragada
Só
Só
Eu me encontro, depredado
E por mim mesmo, confinado
No consultório psiquiátrico
Da epifania e auto-análise
Irônico e sarcástico
Publicamente gentil
Internamente sagaz
Altamente febril
A anedonia e também a autólise
Gravam em mim as tatuagens
Das intempéries e estiagens
30ml é uma baixa dose
Para acelerar o passar do tempo, e
Me levar logo à ti, me desculpar
Ao saber do que fiz, o que ouvis
É minha apologia, uma elegia que
Muito em breve terminará
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
SUPERAÇÃO
Gestos... sons... turbilhões trêmulos,
Tempestades em copos d’água...
Horizontes impassíveis, os
Velhos traços, eis aqui mágoa.
Ressentimento velho, já era...
Inerte dentro do veículo
Que tão logo me acelera
Em doze horas me vejo
A pé na calçada
Pessoas correndo
Vácuo surgindo
A fé superada
Eu sou dragado
Vórtice criado
Do coma eu acordo trépido,
Os sentidos lentamente vêm
De volta da nauseante, também
Movediça temeridade...
O mesmo raciocínio de
Antes, e me sinto pérfido...
Finalmente estou aquém da traição
A que me lancei, ambas as mãos
Abertas, em queda livre
No meio da passarela
De pé, e caindo sempre
Perdido na aquarela
Que borra do céu, entre
Gotas... Chora! Estala!
Dentes com dentes! Ranja!
E a aquarela apenas fica mais borrada quando a encaro entre lágrimas...
Tempestades em copos d’água...
Horizontes impassíveis, os
Velhos traços, eis aqui mágoa.
Ressentimento velho, já era...
Inerte dentro do veículo
Que tão logo me acelera
Em doze horas me vejo
A pé na calçada
Pessoas correndo
Vácuo surgindo
A fé superada
Eu sou dragado
Vórtice criado
Do coma eu acordo trépido,
Os sentidos lentamente vêm
De volta da nauseante, também
Movediça temeridade...
O mesmo raciocínio de
Antes, e me sinto pérfido...
Finalmente estou aquém da traição
A que me lancei, ambas as mãos
Abertas, em queda livre
No meio da passarela
De pé, e caindo sempre
Perdido na aquarela
Que borra do céu, entre
Gotas... Chora! Estala!
Dentes com dentes! Ranja!
E a aquarela apenas fica mais borrada quando a encaro entre lágrimas...
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
SONHO NEGRO
Ó, Volúpia e Sonhos defasados!
Quanta Mesmice, sexo sem Tato!
Minh’alma estremece, intumesce
Inchada de execrabilidade
Palavras enormes, palavras, tão
Malucas, misturadas, que farão
Sopas de letrinhas Oceânicas
Dos mandarins em ruas titânicas
Placas com mais placas e outdoors
Hoje tem um show do “The Doors”
Na cidade mais próxima
Ó, nuvens, negras, brancas, Altas
Altaneiras, invisíveis, só
Apenasmente mais nada!
Quanta Mesmice, sexo sem Tato!
Minh’alma estremece, intumesce
Inchada de execrabilidade
Palavras enormes, palavras, tão
Malucas, misturadas, que farão
Sopas de letrinhas Oceânicas
Dos mandarins em ruas titânicas
Placas com mais placas e outdoors
Hoje tem um show do “The Doors”
Na cidade mais próxima
Ó, nuvens, negras, brancas, Altas
Altaneiras, invisíveis, só
Apenasmente mais nada!
sexta-feira, 11 de julho de 2008
FILHO DO VAZIO
Filho deserdado e sem genitor,
Órfão do vazio...
Deformado do nada frio,
Sem qualquer calor.
Sem qualquer resquício do gerador.
Chega a ser alívio consolador
O decreto de morte expedido
Para o motor que tem expelido
Todo o combustível
Sem nenhum pudor,
Plano infalível!
Pois Agora acabou!
Será a vida isso,
E ninguém me falou?
Órfão do vazio...
Deformado do nada frio,
Sem qualquer calor.
Sem qualquer resquício do gerador.
Chega a ser alívio consolador
O decreto de morte expedido
Para o motor que tem expelido
Todo o combustível
Sem nenhum pudor,
Plano infalível!
Pois Agora acabou!
Será a vida isso,
E ninguém me falou?
quinta-feira, 10 de julho de 2008
SOBRADO
O compasso furtivo do sol
Mais lento do que o pêndulo
Suíço,é elevado trêmulo
Como um feixe vermelho lento
Que na madrugada azul raiou
E as horas que levam seu tato
São surdas para o grito
Abandonando seus traços ao
Longo desse caminho,qual
Por escolha própria eu sigo
Quase obcecado pelos olhos de Ísis
Cuja paixão suprimida pelas pálpebras
Cansadas de há muito chorarem lágrimas
Secas e salgadas e mudas por Osíris
Tanto penaram frustrações e lágrimas
Invejas e mágoas, desenganos horríveis
Tanto visaram o próprio eu
Na frente do espelho morreu
O fantasma da alma, nasceu
Uma nova corrente na frente
Desse rosto que se encara
Arrastando o cadáver do passado
Corrente pesada, passado pesado
Junto com os traços, em todos os rastros
Eu miro para apontar meu destino
E assim seguí-lo.
Mais lento do que o pêndulo
Suíço,é elevado trêmulo
Como um feixe vermelho lento
Que na madrugada azul raiou
E as horas que levam seu tato
São surdas para o grito
Abandonando seus traços ao
Longo desse caminho,qual
Por escolha própria eu sigo
Quase obcecado pelos olhos de Ísis
Cuja paixão suprimida pelas pálpebras
Cansadas de há muito chorarem lágrimas
Secas e salgadas e mudas por Osíris
Tanto penaram frustrações e lágrimas
Invejas e mágoas, desenganos horríveis
Tanto visaram o próprio eu
Na frente do espelho morreu
O fantasma da alma, nasceu
Uma nova corrente na frente
Desse rosto que se encara
Arrastando o cadáver do passado
Corrente pesada, passado pesado
Junto com os traços, em todos os rastros
Eu miro para apontar meu destino
E assim seguí-lo.
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