quarta-feira, 14 de outubro de 2009

PROCELA

Destruidoras ondas espiralam impetuosas,
Junto ao chilrear dos ventos bramindo nefastas!
Erguem as trombas d’água sibilando furiosas
E imponentes sobre a cruel torrente que arrasta!

A escura cor do mórbido azul pelágico
Encobre a superfície hostil com horrenda tinta,
Que negra reluz por sob o manto célico
Da turbulenta, aterradora tormenta!

A borrasca fustiga a areia que a ventania
Vergasta, o tornado flagela os penedos,
Flagela as fragas que fazem à praia companhia!

A natureza ruge, desgasta o rochedo,
O estraga, lima, fere, no frêmito o arranha,
Choca a desentranhar de si o agressivo medo!

ANTILUZ

Resplandecente aura que asperge o cosmos
De tinta negra, como um revolto mar
Noturno, a reter navios nos ermos
Colossais, escuros e frios, a assomar
Monstruoso, gigante, inexorável...
És a impassibilidade voraz, faminta
De calor a devorar o universo!

Buraco negro, escuro antifóton,
Alumia o pesar, esmorece a alegria!
No teu leito profundo vozes ressoam
Ainda! Geme o planeta da tua ébria
Loucura, a o engolir insaciável,
A sufocar o grito e a revolta
Nos terrores e horrores mais diversos!

Indolente miasma, marasmo da alma!
Do caos das prefulgências reverbera,
Perturba a superfície maritma,
No funéreo vácuo ecoa, à severa
Escala foge, perpassa inaudível.

Permeia a galáxia com a sombra estulta,
Na torpe penumbra esconde o perverso.

Antítese da esperança, estagna
A pulsação, amolece os músculos,
Adormece o espírito, acanha
O louvor, absorve o brilho, o ósculo
Sorve, nos deixa a carne perecível,
A carcaça morta, vazia e funesta!
Do lume nos leva ao sentido inverso!

Irradia do pélago da celeste
Origem, da escuridão primitiva...
Desde o início embebe as dolentes vestes
Em óleo escuro, na viscosa saliva
Etérea, no ectoplasma inextinguível!
Matéria escura, matéria esquisita!
Em si permeia o espaço-tempo imerso!

Ruge em contrações, ronca o sono morto
No esquife do fundo abismo atlântico,
Que contém o tempo, guardado no extinto
Âmbar da Gênese, no titânico
Altar... És registro da hora inefável
E primordial, ouve-se de ti a grita,
No oceano o choro batismal submerso!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

UM TRILHÃO DE ANOS

Sinto a brisa fantasmagórica da estrela
A vagar pachorrenta pelas alamedas
Há muito abandonadas, vazias, esquecidas,
Só com o vento solar azul frio a aquecê-las...

A memória do funeral se esvaiu, toca em vão,
Ressoa a melodia fúnebre nos confins surdos
Da distância infinda, onde não há ar... Os mudos
Vácuos vagam por onde mundos já vagaram.

Ah... Meu espectro flutua onde se desintegrou
A tumba do cosmos... O sepulcro se verteu
Em poeira, essa foi soprada, há muito voou.

Ficou apenas a memória diluída, morta...
A alma ressequida que o combustível queimou
Definha tosca na vaguidão insólita...