quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

FOGARÉU

O talo estala no hálito da chama
Enquanto rangem as paredes e o soalho
Na aura incandescente que o fogo emana.

No caos escuta-se da brasa o ralho
E um escarcéu de gritos das cortinas
E sedas agonizando em farfalho.

A escuridão se apodera dos cantos
E dos flancos e quinas cerca as flamas
Famintas e seu fumacê funesto.

As labaredas bafejam grosseiras
E audazes como a lava irrompe rude
Pelo couro da crosta cascalheira.

O sussuro cáustico sopra amiúde
O acinte funéreo ao pé do ouvido
Da carne a crispar-se no crisol que arde.

As fotos e quadros na cresta encrespam
As crassas resinas que derretendo
Em esculturas tenebrosas se estrepam.

O inferno voraz engole o antro que
Inflama agro no ardor acre de vulcão
Que desperto digere vila e bosque.

sábado, 27 de novembro de 2010

DESORDEM DO COLAPSO DAS COLÔNIAS

Ah, tomo corpo esquálido da criança,
Tão frágil, tão magro, entre meus braços...
Beijo a fronte rígida, porém mansa,
Tão dessecada... de ríspidos traços...

Numa tosse ela golfa o sopro vital,
E o líquido anêmico me asperge.
É quando há tanta carência de Esprital
Que a minha fútil consciência emerge.

A grita rosna, o rugido ecoa,
A relva cai como a vida escoa.
As montanhas permanecem imutáveis.

E só então é que a areia se mexe,
Ao chão escavar. É um ato de praxe
Evadir-se das penas inexpiáveis.

sábado, 12 de junho de 2010

THE FEELING SQUANDERS

The suns are setting
In the galaxy
There is no ending
For one to see
The thirst is quenching
As time goes by
No throat is bleeding
No tongue is dry

The seas are draining
The planets die
Our hands are waving
Away we fly
The search goes on
We never rest
Nomad, alone
The human chest

Only the memory
Is allowed to thrive
Exchanging painfully
The joy for strife
Yet soon enough
The hearts keep beating
The blood is pumped
Again we’re living

Again we’re leaving
No bonds, no ties
Where is the feeling?
When does it die?

The season’s changing
The rays of light
Are now arriving
From the other side

The sand has patterns
That will be wiped
Only in a photograph
We keep them alive
New ones are drawn
Over the last
Then we move on
No looking back

Do we have to accept?
Is this correct?

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

ALENTO

Se deixásseis este corpo amanhã
Habitarias finalmente aqui dentro
Veria-te sempre, aqueceria-me
Com teu calor dentro do meu peito
E não do outro lado do meu mundo
E não apenas quando estivéssemos fisicamente perto
E não apenas quando a imagem do teu sorriso me tocasse
E não apenas quando tua mão me afagasse
E não apenas quando precisássemos forçar as bordas dos nossos corpos
Porque tu existirias através de mim
Tu farias o bem pelas minhas mãos
Tu andarias na Terra com as minhas pernas
Eu me tornaria em ti, de tanto que te quereria
E viverias... até que ambos estivéssemos livres...
Mas é melhor assim
Porque, mesmo que só sinta amor
No próprio ato de amar
Prefiro por ti ser amado, do que forçosamente te amar
Porque me faz feliz saber que podes amar
E, se podes amar, de mim podes sentir amor.