sexta-feira, 28 de novembro de 2008

DNASE

Fazer... – Sangue
Branco
Tinta
Sol
Terra
Forma
Fôrma

Desça, ascenda ao trono das nações
Não tema dúvidas ou intimações
Assegurai-se de não macular
Se por acaso te profanem o lar
Estes todos viventes, as plebes

A teus pés gritam
Nos escarnecem
Os mantedores
Milhões em sinergia, se apetecem
Ignorantes e destruidores
Alento e afago, na dor se agitam

Analgésico...
Nos dêem... Nos dêem!
Alento... Onde?
Ratos são tudo
Querem que os comamos? O que pedem!
Uivos, rosnados é o que se entende,
Indaga-se, pois nós tendo estado
A nos dirigir a vós, lógico,

Não tendo sequer léxico para
Acompanhar o rugido vosso
Daí se tira que não nos ampara
A voz do vosso consolo, posso

Eu utilizar esses argumentos
Indaga-se: que está acontecendo?

Viu agora com olhos graves, pesados
Este caminho seco na pele
Deveras, entretanto, dos fardos
E dos castigos, fértil na carne

A verdade, vede a verdade...
Sede a si mesmo
Pois a vida e seus meios
Estão desnudos para ti
E sangue...
Dissabores...
Desilusões...
Restam...
Desintegrados
Como na hora da morte
Os pensamentos
Se reintegram
À sinapse
Da
Realidade...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

A CONTRAÇÃO DO TEMPO

- Professora, eu até entendo... Mas o que você quer dizer com isso?
- Não é um assunto muito delicado... Você não lembra de quando tinha acabado de nascer?
(...)
- É um lançamento interessante... Cê não tem pena mesmo de dizer o que quer! Mas em alguns poemas tem uma coisa diferente... No que é que cê tava pensando quando escreveu isso? Tem a ver com Einstein?
- Só parece ter a ver comigo. Eu atei as duas pontas da vida uma vez, e isso reduziu tudo O que existe ao que viria a ser um sinal de que já houve pó, mas nem isso existe mais. Não sugiro que faça o mesmo.
- Não sugere que leiamos o livro?
- Não sugiro que pensem.
- Mesmo assim você está rindo!

‘O caminho que sigo é simples, entre o que sobrou das guerras e das pestes,
No paraíso que é a cidade, alicerçado com os ossos das plebes.
Diferente de quem nunca teve a chance de seguir com uma breve
Viagem, devaneio boêmio ou inferno em vida, situação que releve,
A cada despedida, a mácula no sorriso – por detrás da pele.

Isso tudo é interferência que meus olhos me transferem, se os fecho
O que está dentro de mim é o que se segue, e só mesmo no que eu me cegue
É que constantemente me verei preso no que invariavelmente me vejo.
Ora! Mas afinal de contas, o que é que eu estou fazendo? Há algo que faço
- E que por acaso me transfere-, como forma de energia, de um lugar para outro?

Se no começo não existo, ou se tudo o que existe tem um começo
Como posso eu admitir a condição em que agora me encontro
Se não está escrito em nenhum documento os meus direitos
Como vou acatar as ordens d’outrem? Nem deveres tenho
Mas se na verdade paro para colocar o preto do branco:

Pergunto: de onde vem o preto? Quando o branco e preto
Deixaram de ser um só, quando eu deixei de ser, nesse ato,
A tinta da caneta, quando meu sangue deixou de fluir para o papel?
Quando ele passou a fluir pelas minhas veias? E também os vermes
A devorar minha carcaça, também as artérias, a me nutrir com o gel.

No meio das ruas, vielas, avenidas, do universo do tamanho dos germes
À repetidamente inimaginável imensidão dos quasares, buracos negros,
Nenhum desses elos se conecta do mesmo jeito, na dendrítica formação
Da vida, interligada pelo que chamam ‘Deus’, mas já chamaram tanta coisa!
Pois os neurônios dessa entidade não parecem saudáveis, a não ser

Que lhe seja necessário o perdão, o que quer que seja apreender a informação
De que aqui estou, não interferirá no meu existir, mas desde quando
Eu deixei de ser um neurônio da realidade, ou a tinta verde que o representa
Nos livros de biologia, ou livros de arte, o que tudo isso quer dizer
Não é capaz de interferir no que quer que venha a acontecer no fim das contas.

Desde o começo, estive aqui escrevendo, mas o fiz por um razão que não escrevo,
Simplesmente por a escrever não saber, simplesmente porque não a conheço.
Infelizmente não vejo motivo de estar infeliz, pois estar infeliz seria um desejo,
Posto que buscaria estar feliz, mas nem para isso vejo algum motivo...
Enfim, estar escrevendo consome tudo aquilo no que consisto,

E, no fim, o que serviria para transmitir minha idéia fica,
Mas o fato de que podem vir a ler isto não implica
Que minhas carnes regozijarão no interior da tumba.
Isso nada interfere na vida, nem mesmo aquela cena
Da sociedade destruída, é só uma conseqüência,

É só uma invenção. Do começo ao fim eu venho testemunhando
As coisas acontecendo, mas nada no meu eu vai sofrendo.
As coisas eu vou sentindo, mas nada na realidade vai mudando.
Nada se cria, nada se perde, tudo continua o mesmo,
Apenas a faceta fica diferente, na hora da morte, na hora do nascimento:
A mesma hora, as duas pontas do buraco negro, uma na cor do preto, outra na cor do branco.’

terça-feira, 11 de novembro de 2008

ANOMIA

No vago e vão, no sem luz, mas sem visão
Sem corpo, sem espaço, sem traço e função
Como envolto no âmnio materno

Depois nos ermos, ao sol, em evolução
Um tronco e quatro braços, mas da cisão
Elegíveis ao solo terno

Mas a palavra “terno”, qual mais dúbia...
“Sentimento”, “pensamento”, súplicas
Por um qualquer entendimento

Restrito, forçado pela fobia
De inexistência, críticas, réplicas
Ao nosso tal procedimento

De qualquer modo, a falta e a ausência
Contra tais, proclamações inflamadas
Contra a anomia, ressentimento

Por seu receio da negra desistência
Medo da loucura, tão transtornadas
Almas, inferno em desalento:

Um monstro para elas! Só que também
Grande e eficaz fusão entre razão e amor
Quando interminável o tormento...

Máquina em funcionamento! Nessa... Bem...
Sociedade, biosfera, mas com temor
A essas palavras entretanto

Se antes no vácuo, já hoje entre paredes
Vazias por dentro, sem cores nem sede
Por colorir o inexistente

E nenhuma compreensão, pois ninguém
Como pessoas, crentes n’outrem, n’alguém
Ao nosso agir indiferentes

Com olhar vetado... Tudo pressuposto...
À sabedoria, ao método, posto
Que todos mudos por covardia

Braços agarrados em sua afasia
E tão prolixos quanto esta poesia
Às refutas de que ainda um dia...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

PROLÍFICO

Palavras estas que queimam o meu intento
As observo, malho!... Limo, suo e teimo!
Minha alma ferve e por isso que tento!
Mas de quê que adianta?

A estrofe quebranta
Se perde aí todo esteio, depois de tanto
Que já foi feito... Não há ermo para termos
Onde naufragar sementes sem alento

Se a vida prolifera e ulula em mente
Vemos logo que não passa de apenas
Uma elegia tocada intermitente
E para que canta?

Se tal morte astuta
Aparece preta, assusta a gente
Sussurra visceral, espalha penas
Vem e vai ilusória e sorrateiramente

Ao final eu não consigo captá-la
Não sei pintá-la, e é que até persisto
Por entre orações da vida, mas cala,
Porque... adianta?