terça-feira, 26 de agosto de 2008

SIMULTANEIDADE

Uma borboleta bate as asas em Pequim;
No Central Park faz sol;
No sertão uma rajada de radiação à pino;
A Sibéria sofre com o aquecimento;

Há alguém comprando tinta nanquim, pintando sinos
Que viu numa catedral
Em viagem ao Nordeste. Quanto conhecimento
Foi levado ao outro lado do mundo...

Ontem, estava sob o efeito do pôr do sol, mas
Isso foi há um ano,
E ontem acabou de passar, pois acordei
Faz pouco tempo, pelo que lembro talvez

Do céu vermelho, estava no carro, olhando as
Nuvens no seu afano -
Um ano atrás, dois meses, ontem, eu nem sei
Em que época estamos! -... Que pequenez...

Arrastando-me pelo azul, floco de neve
A enrubescer tanto...
Dias atrás, em uns acasos simultâneos
O mundo se desfez, e agora isso!

Contando os dias para que as horas passem...
Estão demorando, o manto branco,
O crânio, polido, me mantém preso
Aqui dentro, nisso, frio, mas leve
4 janelas, barras de dentes... Tudo se mistura;

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

ELEGIA

Ó, fruto sagrado!
Ó, atrocidades mil!
Ó, eleição divina!
Ó, velhos discos de vinil!

Vão deixar meu samba
Apodrecer na rua
Feito cachorro velho
Ignorado aos assobios

Assim na corda bamba
Nessa verdade nua
Num turbilhão estéreo
A me assoprar dos lados

Brincando comigo assim como alguém chuta
Uma lata amassada, uma carcaça na calçada
O cão sem dono, mas amigo de todos, na justa
Hora em que morre, arrebatado numa tragada





Eu me encontro, depredado
E por mim mesmo, confinado
No consultório psiquiátrico
Da epifania e auto-análise

Irônico e sarcástico
Publicamente gentil
Internamente sagaz
Altamente febril

A anedonia e também a autólise
Gravam em mim as tatuagens
Das intempéries e estiagens
30ml é uma baixa dose

Para acelerar o passar do tempo, e
Me levar logo à ti, me desculpar
Ao saber do que fiz, o que ouvis
É minha apologia, uma elegia que

Muito em breve terminará

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

SUPERAÇÃO

Gestos... sons... turbilhões trêmulos,
Tempestades em copos d’água...
Horizontes impassíveis, os
Velhos traços, eis aqui mágoa.

Ressentimento velho, já era...
Inerte dentro do veículo
Que tão logo me acelera
Em doze horas me vejo

A pé na calçada
Pessoas correndo
Vácuo surgindo

A fé superada
Eu sou dragado
Vórtice criado

Do coma eu acordo trépido,
Os sentidos lentamente vêm
De volta da nauseante, também
Movediça temeridade...

O mesmo raciocínio de
Antes, e me sinto pérfido...
Finalmente estou aquém da traição
A que me lancei, ambas as mãos

Abertas, em queda livre
No meio da passarela
De pé, e caindo sempre

Perdido na aquarela
Que borra do céu, entre
Gotas... Chora! Estala!

Dentes com dentes! Ranja!
E a aquarela apenas fica mais borrada quando a encaro entre lágrimas...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

SONHO NEGRO

Ó, Volúpia e Sonhos defasados!
Quanta Mesmice, sexo sem Tato!
Minh’alma estremece, intumesce
Inchada de execrabilidade

Palavras enormes, palavras, tão
Malucas, misturadas, que farão
Sopas de letrinhas Oceânicas
Dos mandarins em ruas titânicas

Placas com mais placas e outdoors
Hoje tem um show do “The Doors”
Na cidade mais próxima

Ó, nuvens, negras, brancas, Altas
Altaneiras, invisíveis, só
Apenasmente mais nada!