quarta-feira, 16 de setembro de 2009

LUZ VERMELHA

Eflúvios! Ondas! Correntes solares! Ó!
Mais uma vez vos admiro! Terno consolo...
Sentado ao despenhadeiro te fito, só,
Mas preenchido e enternecido sob o teu halo...

Nem santa, nem profana, nem humana, sideral!
Útero materno, sangue arterial, distinta
Mão que afaga, sobre mim estica a manta astral!
E me acalenta, me lembra o azul, a tinta

Cerúlea, violeta e marinho, tu és fogo,
O oceano o óleo, eu a tocha, num balé de flamas
Sou embebido em calor, neste torpor me afogo!

Envolve o mundo! Doba os raios sanguíneos, rubros,
A entranhar a esfera terrestre nas tuas chamas
Com róseos, enferrujados, trigueiros membros!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

LUZ BRANCA

Ah! Luz branca! Fulgor da alma! Oceano aéreo...
Vogo no teu humor, à deriva, ó leveza,
Sopro morno, seio materno, ó corpo etéreo!
Me punge, peneira, enleva-me em realeza!

No cinza monótono, no fosco, no opaco,
De ti me lembro, e flutuo em terna liquidez.
Aos olhos podes ser terno afago, Góticos
Raios de serena gelidez e suave agudez...

Tenra ventania, brisa inerte, onda de alto mar,
Embala, comove, chama as brumas e névoas...
Um Anjo entrecorta as nuvens, e Gloriosa ama!

Ó Ninfa dos lagos luzeiros, das jazidas
De cristais pastosos, abre as asas e voa!
Toca-me a face, faz-me a vida mais Vívida!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

AMOR IDEAL

O amor ideal é intangível
É o rebusco das emoções
Até o seu mais alto nível.
A perdurar por gerações,

Ele aquece do túmulo
As terras e as vidas todas,
Fazendo emergir do solo
Belas flores esquecidas,

Mas ainda assim coloridas.
O amor ideal é trôpego,
Gagueja, sua, traz despida
A inocência, os trêfegos

Beijos, inquietudes, sopros.
Desespero e inconsequência.
Sexo por amor, quid pro
Quo
em parnasa competência.

É frágil, mas duradouro.
Ora trágico e ora feliz.
O amor ideal é vindouro
E pode deixar cicatriz.

É uma luta, não um acordo
Entre o futuro e o destino.
É beijar a pedra e o fardo
Encontrados no caminho.

É tragar o suor e o orvalho,
Beber do ocaso e da pele,
Desdenhar dos elos falhos,
Morrer, por mais que se cale

O grito, rogo e súplica,
Deixar-se afundar, descender
Na prosa mais impudica
A respeito do seu entender

Próprio. É esquecer-se de si
Mesmo, compreender-se menos,
Perder-se, desencontrar-se,
Tatear pelo outro, pois unos

Os corpos se comunicam,
Pedem-se e se negam, tolos...
Sonegam a saliva, ficam
À espera um do outro, nos miolos

De algodão, tecidos, véus,
Campos de trigo, córregos,
Pedindo mesmo em si: "Céus,
Deixem-me fluir em seu âmago!"

Para aqueles destemidos
Ou apaixonados por sonhos,
O amor ideal é cálido,
Um tesouro sem tamanho!