Atravessando o árido deserto da escassez
Escrevi meu nome na terra rachada pela seca
Com um pedaço de pau retorcido, outra vez
Com um garrancho nas mãos desenho as cercas
Onde já encarcerei meu próprio espírito
Para que não vague nestas terras castigadas
As únicas e mais improdutivas que, atônito
Recebi, molhando-as, xiringando da face chagada
As impudicas lágrimas, menos salinas que a rocha
Sobre a qual edifico minha casa, digo, pelo menos
Fica o desenho da obra, numa terra que já foi roxa
Agora causticadas, sem lembranças do vento terno
Imploro as migalhas dos abraços, já fui na vida acossado
Por dono de empresa, pelos escritores da imprensa
Já fui em vida imprensado por seis paredes
Na insônia, na doença, tão cansado, assim na rede
Sem parar de pensar na imensidão do sertão
E o quanto ele todo vale nada frente à minha miséria
Aspereza, faz mais de dois mil anos que o ouro virou pó
Nessas noites, sabe, o pó do ouro salgando a terra
A rima não se acerta, o urubu me sonda
Cheirando o suor da minha roupa pelo canto
Da vista, esperando que minha alma se esconda
E ele terá a recompensa pela qual esperou tanto
No cochilo do morto, ele bica meu olho
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