sexta-feira, 21 de agosto de 2009

FULVO

De uma maneira semelhante a qual eu
Tento inutilmente mixar idéias,
Combinar palavras, fusionar temas,
Entrelaçar os raios e espectros,

O universo se comporta como Deus,
Envolvendo tudo em sua inércia,
Encolhendo a natureza de forma
Que não consigo mensurá-la em metros,

Mas em cores, reações e interações.
Meu santo graal é falar do que penso,
Mas para todo cálice que ergo
A luz teima em cintilar diferente.

O granulado de milhões de sóis
Que emana do objeto não é denso
Como o pesar derivado do meu ego,
Ego ouriço, agudo, pungente

Mas profundo, enorme como um lago
Gélido em pontadas, terno em liquidez
No poço escuro da minha alma, ternura
Que tenho assim para comigo mesmo...

Enfim, eu realmente nunca rogo,
Mas a natureza me atende, de vez
Em quando, me faz sentir a textura
Que sentimos antes de adormecermos.

Quero a fotografia existencial
Deste instante, o perfeito desenho
Do fulvo oxidado, rubro dourado,
Da brisa inebriante, do tenro e amargo,

Claro, límpido, suave e com especial
Mescla entre húmido e seco, e com empenho
Prossigo, as coisas todas roçando
A pele, feito correntes no âmago

Do oceano, no estômago de netuno,
De Kronos, do cosmos, cerne do Sol,
O fulcro do adimensional ponto
Que sou. Perdi-me ontologicamente

E também no texto. Tornei-me uno
Com o todo e o resto. Sem uma coisa só
Explicar, jamais enxergarás isto.
Por isso escrevo amarguradamente.

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