sexta-feira, 28 de agosto de 2009

CARPE DIEM IMPOSSÍVEL

O roçar do tempo nas peles e plantas
É como o farfalhar das folhas, como o mudo
Eriçar de pêlos, germinar de sementes
Intenso comunicar de entes invisíveis
E trata também de intangíveis horizontes
A atritar céu e Terra na linha do infinito
A erodir a alma em estrídulos inaudíveis

A exaurir o gozo de regalias tantas
A atropelar o anseio, deixar o esteio desnudo
Vulnerável o alicerce ao sabor das gentes
Com o tempo ao calor o contato vai cedendo
Os dois planos indivisíveis se aquecendo
Os olhos a refletir o vermelho gasto
E o amarelo do agudo raio de infindos sóis

Assim o dia vai morrendo, e assim vamos nós, santas
Almas, de auras que o tempo rapa, que de surdos
Faz os atentos, de jovens, velhos dementes
De crianças inocentes, adultos sedentos
Do modesto e humilde, o áspero e o avarento
O humano o tempo arranha, rasga a seu contento
Os resilientes têm couraças perecíveis

Que aos vermes agrada. Da mais ignota casta
É devorada a polpa, da mais sacra, tudo
Só resta a fome, o alimento do existente
A sede é a água dos viventes, o pecado
É o pó dos penitentes, o ouro é a salvação
Enquanto vive o vivo busca apenas luto
Mas se diverte com a sua distração, focado

Em não refletir sobre o espelho d'água, vasta
A digressão que elabora ao ter contemplado
O próprio monólogo escrito no semblante
Da imagem. É assim, verá a si mesmo no fundo
Do lago, apodrecido, inchado, devorado
No fundo, o pecador repudia o defunto
E o santo almeja o féretro. Pobres ignavos...

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