- Professora, eu até entendo... Mas o que você quer dizer com isso?
- Não é um assunto muito delicado... Você não lembra de quando tinha acabado de nascer?
(...)
- É um lançamento interessante... Cê não tem pena mesmo de dizer o que quer! Mas em alguns poemas tem uma coisa diferente... No que é que cê tava pensando quando escreveu isso? Tem a ver com Einstein?
- Só parece ter a ver comigo. Eu atei as duas pontas da vida uma vez, e isso reduziu tudo O que existe ao que viria a ser um sinal de que já houve pó, mas nem isso existe mais. Não sugiro que faça o mesmo.
- Não sugere que leiamos o livro?
- Não sugiro que pensem.
- Mesmo assim você está rindo!
‘O caminho que sigo é simples, entre o que sobrou das guerras e das pestes,
No paraíso que é a cidade, alicerçado com os ossos das plebes.
Diferente de quem nunca teve a chance de seguir com uma breve
Viagem, devaneio boêmio ou inferno em vida, situação que releve,
A cada despedida, a mácula no sorriso – por detrás da pele.
Isso tudo é interferência que meus olhos me transferem, se os fecho
O que está dentro de mim é o que se segue, e só mesmo no que eu me cegue
É que constantemente me verei preso no que invariavelmente me vejo.
Ora! Mas afinal de contas, o que é que eu estou fazendo? Há algo que faço
- E que por acaso me transfere-, como forma de energia, de um lugar para outro?
Se no começo não existo, ou se tudo o que existe tem um começo
Como posso eu admitir a condição em que agora me encontro
Se não está escrito em nenhum documento os meus direitos
Como vou acatar as ordens d’outrem? Nem deveres tenho
Mas se na verdade paro para colocar o preto do branco:
Pergunto: de onde vem o preto? Quando o branco e preto
Deixaram de ser um só, quando eu deixei de ser, nesse ato,
A tinta da caneta, quando meu sangue deixou de fluir para o papel?
Quando ele passou a fluir pelas minhas veias? E também os vermes
A devorar minha carcaça, também as artérias, a me nutrir com o gel.
No meio das ruas, vielas, avenidas, do universo do tamanho dos germes
À repetidamente inimaginável imensidão dos quasares, buracos negros,
Nenhum desses elos se conecta do mesmo jeito, na dendrítica formação
Da vida, interligada pelo que chamam ‘Deus’, mas já chamaram tanta coisa!
Pois os neurônios dessa entidade não parecem saudáveis, a não ser
Que lhe seja necessário o perdão, o que quer que seja apreender a informação
De que aqui estou, não interferirá no meu existir, mas desde quando
Eu deixei de ser um neurônio da realidade, ou a tinta verde que o representa
Nos livros de biologia, ou livros de arte, o que tudo isso quer dizer
Não é capaz de interferir no que quer que venha a acontecer no fim das contas.
Desde o começo, estive aqui escrevendo, mas o fiz por um razão que não escrevo,
Simplesmente por a escrever não saber, simplesmente porque não a conheço.
Infelizmente não vejo motivo de estar infeliz, pois estar infeliz seria um desejo,
Posto que buscaria estar feliz, mas nem para isso vejo algum motivo...
Enfim, estar escrevendo consome tudo aquilo no que consisto,
E, no fim, o que serviria para transmitir minha idéia fica,
Mas o fato de que podem vir a ler isto não implica
Que minhas carnes regozijarão no interior da tumba.
Isso nada interfere na vida, nem mesmo aquela cena
Da sociedade destruída, é só uma conseqüência,
É só uma invenção. Do começo ao fim eu venho testemunhando
As coisas acontecendo, mas nada no meu eu vai sofrendo.
As coisas eu vou sentindo, mas nada na realidade vai mudando.
Nada se cria, nada se perde, tudo continua o mesmo,
Apenas a faceta fica diferente, na hora da morte, na hora do nascimento:
A mesma hora, as duas pontas do buraco negro, uma na cor do preto, outra na cor do branco.’
2 comentários:
Pergunto-me mais uma vez,agora, se realmente há a verdade.Parece tão simples colocar o preto no branco, mas até agora eu ainda não consegui.
O 'paint' consegue colocar o preto no branco, fica digitalmente perfeito. Mas por que parece ser tão forjado?
Enquanto eu fico aqui insistindo em pintar com um giz preto uma folha de papel ofício. Mas não fica todo preto. Sempre sobra uma parte.
Depois, meu pulso começa a latejar, e na maioria acabo não completando a pintura, até por saber q mesmo tentando ela não ficaria perfeita.
Talvez eu nunca saiba pq não consigui.
Mas eu gosto do branco(ou sou forçada a acreditar q gosto pelo cansaço,pela acomodação, pela rotina aparentemente inquebrável: Ele me dá ânsia, desejo de querer descobrir a verdade, de pintá-lo com minha cor preferida.
Mas olhar pro branco d+ acaba cansando à vista.
E aqui me pego, tb não sei o que me faz escrever, o q me move a viver, o q faz meu sangue correr pelas veias...
talvez seja por gratidão por não ter um motivo para ser infeliz. Mas qd me vejo, em um momento feliz,(pode ser qualquer um: uma risada entre amigos de verdade, um abraço forte e sincero,um afago, um simples sorriso,
ou algo q me faça perceber q naquele momento sou importante para alguém) eu sinto mais coragem para continuar vivendo, nem q seja pela esperança de obter tudo aquilo de novo.
Quem sabe isso possa ser só mais uma ilusão...
Prefiro não ser cética o bastante para acreditar em tudo que me dizem na escola, não confio naqueles q dizem 'ditar' as regras, pq se eles nao me conhecem como podem dizer o q eu devo fazer ou naum, os meios não justificam os fins. assim, como também os fins naum justificam os meios.podem tentar explicá-los, mas nao justificam.
Eu acredito em 'Deus',não pela visão q as igrejas, seitas, salinhas de macumba, ou ateus têem Dele.
tenho meu próprio conceito de Deus, mas isso não quer dizer q eu criei um 'Deus' só pra mim.
'Deus' é único-igual para todos, mas as pessoas criam tudo. Talvez por distorcerem o q tanto pregam nos catecismos: somos a imagem e semelhança de Deus. e acabam fazendo com q ele seja a nossa imagem e semelhança.
busco ele, nos momentos difíceis, por isso acho justo buscá-lo também em momentos felizes.
Hj creio ser grata por viver, disso eu tenho certeza.
talvez seja considerada por muitos uma 'romantica' por levar no meu sorriso a esperança de poder enxergar mais uma vez um olhar vivo e sincero de outrem...
mas fazer o quê? nao consigo ser moderna, realista, racional o suficiente,para pensar q consigo viver só e apenas pelo simples fato de existir.
talvez por naum conseguir isto, eu não possa afirmar com todas as letras que me amo. mas às vezes digo q me amo, pelo fato de não ter coragem de me matar.
E mesmo sabendo q tudo vira pó mais uma vez...Eu sou grata por ter recebido o presente da vida(já recebi...fazer o quê neh? 'suicídio é para pessoas fracas'...cresci ouvindo isso).
E mesmo sem ter certeza q esse seja meu real motivo, ainda prefiro acreditar q o seja.
Não tenho lembranças da minha infância suficientes.
Assim como não tenho a mínima recordação de qd nasci.
Não sei se as fotos que me mostram são reais.
Não sei se o mundo é real.
Os indianos dizem que só a verdade prevalecerá..
Mas eu já estou com os pulsos doendo d+ para acreditar no q eles dizem. Confesso, q tenho medo do conhecimento.
Têm coisas q eu preferiria nunca ter visto, ou ter tomado conhecimento.
Mas parece q naõ temos escolha.
Assim como não escolhemos nascer.
Considero os neurônios de muito em estado crítico de saúde,
mas como posso afirmar se os meus estão saudáveis ou não?
Só espero que daqui a alguns anos eu ainda acredite: tudo valeu e vale muito a pena...
Nooossa!!!
meu comentário, ficou quase q maior q o teu texto.
^^'
Renato...
Obrigada, por ter escrito esse texto.
Eu precisava muuuito dessa reflexão.
Muuuito grata pela paciência na leitura(caso vc a tenha feito ;P)
Abraço forte!
Se cuida, minino...
E nunca pare de escrever.
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