domingo, 22 de junho de 2008

SOCIEDADE METALÚRGICA ESPIRITUAL

A que diga o ourives servindo o rei

E os toscos ouvintes da rádio Cereja

Quanto às nuvens que deslizam hoje

E a lua que rola sem eira nem beira

Apenas faça do ouro lingotes e barras

Da música companhia sem hora marcada

Das horas um caminho maior que o horizonte

Que te levará sem explicar para não sei aonde

O amarelo do sol que enferruja a firmeza

Da manhã de segunda, quarta e sexta

Derrete as bordas e silhuetas

De pessoas, árvores e mesas

Dispostas em calçadas, ruas, restaurantes

Em espiral se retorcem suavemente

Antes que se perceba o trabalho foi feito

De um jeito ou de outro, pronto e sem medo

Aqui jaz a obra de arte de cada um

Olhada por todos e por mais nenhum

Muita saudade, muita incerteza

Nenhuma piedade, toda rudeza

A cara de quem passa fome

A insolência de quem não sabe o que come

Sem estar aquém da sutileza

Com que é enganado ao sentar na cadeira

Bem como o orgulho de quem é sepultado

E que jamais poderá ser alcançado

E daqueles cujo orgulho está morto

E se lançam ao chão pedindo aos outros

Também a raiva e a língua tesa

De quem assiste o mundo nas telas

Do televisor, do pintor, das bordadeiras

O vendo rolar a ribanceira

Também o frio do vento que vem carregando

As vidas das pessoas que vão se lançando

Sem mais nem menos ao sabor do existir

Sem esperar pra saber quando chega o fim

Isso tudo é fruto da nossa inocência

Isso tudo é coisa ruim de quem pensa

E também de quem não

Também de quem não o faz

Porque a Terra é tão

Cheia de gente sagaz

Que aceita tudo o que a realidade deve ser

Sem questionar tudo antes de ver

Pergunta metade das coisas e ainda diz uma coisa saber

Isso acontece com todos, comigo e ainda com você

Apenas deixar a vida em paz

Seria o mesmo que morrer?

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