A que diga o ourives servindo o rei
E os toscos ouvintes da rádio Cereja
Quanto às nuvens que deslizam hoje
E a lua que rola sem eira nem beira
Apenas faça do ouro lingotes e barras
Da música companhia sem hora marcada
Das horas um caminho maior que o horizonte
Que te levará sem explicar para não sei aonde
O amarelo do sol que enferruja a firmeza
Da manhã de segunda, quarta e sexta
Derrete as bordas e silhuetas
De pessoas, árvores e mesas
Dispostas em calçadas, ruas, restaurantes
Em espiral se retorcem suavemente
Antes que se perceba o trabalho foi feito
De um jeito ou de outro, pronto e sem medo
Aqui jaz a obra de arte de cada um
Olhada por todos e por mais nenhum
Muita saudade, muita incerteza
Nenhuma piedade, toda rudeza
A cara de quem passa fome
A insolência de quem não sabe o que come
Sem estar aquém da sutileza
Com que é enganado ao sentar na cadeira
Bem como o orgulho de quem é sepultado
E que jamais poderá ser alcançado
E daqueles cujo orgulho está morto
E se lançam ao chão pedindo aos outros
Também a raiva e a língua tesa
De quem assiste o mundo nas telas
Do televisor, do pintor, das bordadeiras
O vendo rolar a ribanceira
Também o frio do vento que vem carregando
As vidas das pessoas que vão se lançando
Sem mais nem menos ao sabor do existir
Sem esperar pra saber quando chega o fim
Isso tudo é fruto da nossa inocência
Isso tudo é coisa ruim de quem pensa
E também de quem não
Também de quem não o faz
Porque a Terra é tão
Cheia de gente sagaz
Que aceita tudo o que a realidade deve ser
Sem questionar tudo antes de ver
Pergunta metade das coisas e ainda diz uma coisa saber
Isso acontece com todos, comigo e ainda com você
Apenas deixar a vida em paz
Seria o mesmo que morrer?
Nenhum comentário:
Postar um comentário