O que é a vida senão um jogo?
Videogame ou tabuleiro,
Caixa sem peças, mas logo
Dela surge o mundo inteiro.
E imagens dentro da tela,
Também peças espalhadas,
Se acaso nós, pela sala,
Imaginarmo-nas todas,
Para preencher esse tédio,
Que às vezes nos enche de ódio,
Sem nem saber o que fazer,
Nem mesmo o que satisfazer.
E a gente não fica apenas
Nesse pega, mata e come,
Vivendo assim à duras penas
Só para matar a fome,
Pois povo não quer só pão,
Não quer só suruba, circo,
Quer obrigação, e fisco.
E digo eu que se poupam.
Querem sua dificuldade,
Seu tempo todo sofrido,
Para ter dignidade,
Para merecer castigo.
Ninguém tem afinidade
Com o tempo puro e fluido.
Inventa mundo, maldade...
Burocracia... Perigo...
Mas não adianta nem se esconder
Nem fugir. No fim de tudo
O vencedor irá aceder
Ao vazio, tédio, e ao mudo.
Todos vencerão sem importar
A paixão que tiver pelos
Dados, para nunca voltar,
Não importa nem o zelo
Que tiver consigo mesmo,
Nunca mais voltar ao jogo.